domingo, 9 de junho de 2013

Semiótica na publicidade

Numa aula sobre a Semiótica nas campanhas publicitárias, a proposta de atividade foi criar um logotipo para  a (suposta?) Tv Gourmet.

Bem, meus rascunhos iniciais eram diferentes, mas gostei dos dois logos que criei por fim (ficaram bonitinhos, vai :P). 

Na tela:


domingo, 2 de junho de 2013

Um sonho dentro de um sonho


"Será que tudo o que vejo e suponho
É só um sonho dentro de um sonho?"



É citando o grande Edgar Allan Poe que posto esse desenho que representa (ou deveria) um sonho, um tanto quanto surrealista. Sei que a proposta da atividade é representar um sonho dramático, mas meus sonhos quase nunca são dramáticos. Quando o são, na verdade, são pesadelos, ainda assim muito raros. Mas o que sempre tenho são sonhos surrealistas (gosto de chamá-los assim, com sua licença) ou, quem sabe, sonhos dentro de sonhos. Dessa forma, esse desenho pode representar muita coisa - ou nada - de acordo com o seu olhar de intérprete, por isso, não sou eu que ousarei descrevê-lo e podar possíveis interpretações. Prefiro deixar o observador assim, à mercê de sua imaginação e capacidade de abstração. Se o assunto é semiótica, que a análise seja semiótica também e o signo mostre ao seu intérprete o que este quiser ver. Boa sorte. 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

O processo de um olhar (quase) Semiótico


“Em um primeiro momento, pelo menos, temos de dar aos signos o tempo que eles precisam para se mostrarem.”

        É com essa citação que começo minha análise (acho, no caso, essa palavra muito audaciosa, visto que não me acho conhecedora o suficiente das teorias semióticas para realizar uma verdadeira análise de uma obra de arte dentro desta perspectiva). Prefiro dizer que apenas exporei minhas impressões quanto ao processo de observação (falando em termos gerais) e, neste percurso, tentarei fazer conexões com os conceitos estudados na disciplina até agora.

            De todas as diversas e belas obras que tive a oportunidade de ver em nossa visita ao Museu de Arte da UFC (MAUC), várias me chamaram a atenção, claro. A riqueza e variedade das obras é um prato cheio para todo e qualquer apreciador (mesmo que bem amador – e esta é minha condição) da arte. Entretanto, para termos de exposição de minhas impressões, cheguei à conclusão que me sentiria mais à vontade falando do quadro “Amazonas guerreando” de Antonio Bandeira (Bandeira, sem o s, diferenciando-se, assim, do ator). Enfim, a imagem do quadro é esta que segue abaixo:



              Pois bem, retomando as palavras de Santaella: “Em um primeiro momento, pelo menos, temos de dar aos signos o tempo que eles precisam para se mostrarem.” Em um primeiro momento esse quadro pode não parecer nada além de rabiscos. Para um observador mais desavisado, não passaria apenas de manchas de tintas sobre uma tela. Na primeiridade da contemplação, acredito que o efeito mais comum seja o de estranhamento, ou até mesmo desconforto com a aparente bagunça das “manchas de tinta” jogadas na tela. Eu mesma confesso que me senti um pouco incomodada quando notei o quadro na parede branca. Pensando no quadro como um signo num todo, todas aquelas manchas de tinta bagunçadas não passavam de possibilidades qualitativas, inicial e aparentemente sem significado determinado.

          Mas então, após o estranhamento, passei a reparar e analisar o quadro. Suas cores, formas, composição. Enfim, esquadrinhei seus elementos visuais. Confesso que não fiz isso pensando nos passos da análise semiótica, fiz por instinto mesmo, pura curiosidade e necessidade de desvendar aquela incógnita que se apresentava naquele momento. Enfim, passei a observar cuidadosamente o signo. Percebi as coisas que tornavam aquela obra única, seus traços, sua combinação de cores, as formas. Observei tudo que pude e meu sentimento para com a obra começou a moldar-se ao pensamento. Não havia mais o estranhamento, desconforto. Parecia que, mesmo sem compreender suas motivações, o quadro já passava uma mensagem, demonstrava sua unicidade e seu rico potencial interpretativo. Nesse momento, acredito que iniciou-se um processo terceiro em minha mente, quando procurei racionalizar a respeito daquilo. Busquei informações. Quando vi o título da obra, Amazonas Guerreando, pode então captar um pouco das potenciais significações ali apresentadas. Pensei sobre sua possível história, o fato dele estar ali, naquela dada exposição. Analise-o novamente e procurei abstrair o geral do particular, percebi em suas formas, os contornos que, de fato (ou pelo menos em minha mente), sugeriam a mensagem passada pelo título. Nos círculos amarelos, em conjuntos com traços pretos e quadrados azuis, já podia perceber as representações de amazonas, com as mãos na boca, como que gritando para anunciar uma guerra, dando um sinal para as outras atacarem seus inimigos. Comecei então a fazer uma série de significações daquelas imagens e suas potenciais mensagens.

Creio que, nessa experiência, foi possível alcançar os três de olhares. O primeiro, da apreensão do objeto imediato do quali-signo, condição causada pelo poder de sugestão da aparência do mesmo. Em seguida, a contemplação da materialidade do sin-signo, a sua simples condição de existir como parte de um universo maior. E então o olhar dirigido ao fundamento do legi-signo, considerando sua propriedade de lei, em cujo estágio a análise do objeto imediato leva ao objeto dinâmico, que já nos leva a analisar do modo como o signo transmite algo ao seu observador, ou seja, o caráter de representação do signo, no caso, simbólico, já que as formas do quadro simbolizam as amazonas e nos transportam, de certa forma, para o seu contexto, para um campo de referências relacionadas ao assunto em questão e que nos permite realizar as conexões que nos trazem a mensagem do signo.

Entretanto, como disse no começo, essa são minhas impressões da obra, e como sabemos, o signo é múltiplo e pode variar de acordo com o olhar do observador. Mesmo não dependendo totalmente do intérprete, cada um pode dar uma significação modificada (até certo ponto) da mensagem.


quinta-feira, 16 de maio de 2013

What is... Semiótica?

Vídeo produzido para a cadeira de semiótica.
Concepção, roteiro, produção, gravação, atuação e edição: Karolinne Frota, Lorena Raíssa e Nayana Carneiro.

Pensamos em fazer um vídeo que fosse (na medida do possível) divertido, engraçado e leve no seu conteúdo. Queríamos passar nosso entendimento quanto à Semiótica - com base em nossos estudos de Peirce - de maneira descomplicada e eficiente. E acredito que, dadas as dificuldades e descontadas algumas falhas, atingimos nossos objetivos. :)
Não tivemos a audácia de adentrar em questões mais profundas, mas, para uma primeira noção e estudos básicos, nossa explicação é satisfatória.

Segue o link para quem quiser dar uma olhada:
http://www.youtube.com/watch?v=86nqcaU049c

terça-feira, 30 de abril de 2013

Aplicando a Semiótica (o início)...


Continuando a linha fichamentos, a bola da vez é o 1º capítulo de Semiótica Aplicada, de Santaella. Optei por manter as divisões da autora e neles faço meus grifos, destaques, comentários, etc.
So, let the games begin.


***

        1.       O lugar da semiótica na obra de Peirce.

A semiótica é uma das disciplinas que fazem parte da ampla arquitetura filosófica de Peirce. Essa arquitetura está alicerçada na fenomenologia, uma quase-ciência que investiga os modos como apreendemos qualquer coisa que aparece à nossa mente.

Essa quase-ciência fornece as fundações para as três ciências normativas: estética, ética e lógica e, estas, por sua vez, fornecem as fundações para a metafísica. A estética, ética e lógica são chamadas normativas porque elas têm por função estudar ideais, valores e normas. A lógica estuda os ideais e normas que conduzem o pensamento.

Por ser o estudo do raciocínio correto, a lógica nos fornece os meios para agir razoavelmente, especialmente através do autocontrole crítico que o pensamento lógico nos ajuda a desenvolver.

Peirce deu-se conta de que não há pensamento que possa se desenvolver apenas através de símbolos. Por isso, a semiótica trata não apenas das leis do pensamento e das condições da verdade, mas deve debruçar-se, antes, sobre as condições gerais dos signos. Deve estudar,
inclusive, como pode se dar a transmissão de significado de uma mente para outra e de um estado mental para outro.

É por esse motivo que a Semiótica se divide em três ramos:
- Gramática Especulativa: é o estudo de todos os tipos de signos e formas de pensamento que eles possibilitam.
- Lógica Crítica: toma como base as diversas espécies de signos e estuda os tipos de inferências, raciocínios ou argumentos que se estruturam através de signos (abdução, indução e dedução).
- Metodêutica ou Retórica Especulativa: estuda os princípios do método científico, o modo como a pesquisa científica deve ser conduzida e como deve ser comunicada.

A relação entre os três ramos se dá com a lógica crítica baseada na gramática especulativa e a metodêutica baseada na lógica crítica.

Para isso, a gramática especulativa trabalha com os conceitos abstratos capazes de determinar as condições gerais que fazem com que certos processos possam ser considerados signos.

A gramática especulativa nos fornece as definições e classificações para a análise de todos os tipos de linguagens, signos, sinais, códigos etc., de qualquer espécie e de tudo que está neles implicado: a representação e seus três aspectos (a significação, a objetivação e a interpretação). Isso porque, na definição de Peirce, o signo tem uma natureza triádica, podendo ser analisado:
· em si mesmo, nas suas propriedades internas, ou seja, no seu poder para significar;
· na sua referência àquilo que ele indica, se refere ou representa;
· nos tipos de efeitos que está apto a produzir nos seus receptores, isto é, nos tipos de interpretação que ele tem o potencial de despertar nos seus usuários.

Desse modo, a teoria semiótica nos permite penetrar no próprio movimento interno das mensagens, no modo como elas são engendradas, nos procedimentos e recursos nelas utilizados.

Por ser uma teoria muito abstrata, a semiótica só nos permite mapear o campo das linguagens nos vários aspectos gerais que as constituem. Devido a essa generalidade, para uma análise afinada, a aplicação semiótica reclama pelo diálogo com teorias mais específicas dos processos de signos que estão sendo examinados. Isso ressalta a natureza e a relação multidisciplinares da semiótica, pois ela funciona como um mapa lógico que traça as linhas dos diferentes aspectos através dos quais uma análise deve ser conduzida, mas não nos traz conhecimento específico da história, teoria e prática de um determinado processo de signos.


        2.       A Fenomenologia e a Semiótica

Fenômeno é tudo aquilo, qualquer coisa, que aparece à percepção e à mente. A fenomenologia tem por função apresentar as categorias formais e universais dos modos como os fenômenos são apreendidos pela mente.

Os estudos levaram Peirce à conclusão de que há, só e somente só, três elementos formais e universais em todos os fenômenos que se apresentam à percepção e à mente. Em um nível de generalização máxima, esses elementos foram chamados de primeiridade, secundidade e terceiridade (como já vimos nas leituras anteriores). À título de revisão, ressaltemos que a primeiridade aparece em tudo que estiver relacionado com acaso, possibilidade, qualidade, sentimento, originalidade, liberdade. A secundidade está ligada às idéias de dependência, determinação, dualidade, ação e reação, aqui e agora, conflito, surpresa, dúvida. A terceiridade diz respeito à generalidade, continuidade, crescimento, inteligência.

A forma mais simples da terceiridade, segundo Peirce, manifesta-se no signo, visto que o signo é um primeiro (algo que se apresenta à mente), ligando um segundo (aquilo que o signo indica, se refere ou representa) a um terceiro (o efeito que o signo irá provocar em um possível intérprete).

Como também já vimos, o signo é qualquer coisa de qualquer espécie que representa uma outra coisa, chamada de objeto do signo, e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial, efeito este que é chamado de interpretante do signo.

Tanto quanto o próprio signo, o objeto do signo também pode ser qualquer coisa de qualquer espécie. Essa "coisa" qualquer está na posição de objeto porque é representada pelo signo. O que define signo, objeto e interpretante, portanto, é a posição lógica que cada um desses três elementos ocupa no processo representativo.

Os efeitos interpretativos dependem diretamente do modo como o signo representa seu objeto.

Sabendo da lógica triádica do signo podemos compreender melhor porque a definição peirceana do signo inclui três teorias: a da significação, a da objetivação e a da interpretação.

 Da relação do signo consigo mesmo, isto é, da natureza do seu fundamento, ou daquilo que lhe dá capacidade para funcionar como tal, que pode ser sua qualidade, sua existência concreta ou seu caráter de lei, advém uma teoria das potencialidades e limites da significação.
Da relação do fundamento com o objeto, ou seja, com aquilo que determina o signo e que é, ao mesmo tempo, aquilo que o signo representa e ao qual se aplica, e que pode ser tomado em sentido genérico como o contexto do signo, extrai-se uma teoria da objetivação, que estuda todos os problemas relativos à denotação, à  realidade e referência, ao documento e ficção, à mentira e decepção.
Da relação do fundamento com o interpretante, deriva-se uma teoria da interpretação, com as implicações quanto aos seus efeitos sobre o intérprete, individual ou coletivo.

Existem signos de terceiridade, isto é, signos genuínos, mas há também quase-signos, isto é, signos de secundidade e de primeiridade. Por isso Peirce levou a noção de signo tão longe: ele mesmo não precisa ter a natureza plena de uma linguagem (palavras, desenhos, diagramas, fotos etc.), mas pode ser uma mera ação ou reação. O signo pode ainda ser uma mera emoção ou qualquer sentimento ainda mais indefinido do que uma emoção.

Qualquer coisa que esteja presente à mente tem a natureza de um signo.

Signo é aquilo que dá corpo ao pensamento, às emoções, reações etc. Externalizações de pensamentos, emoções e reações são traduções mais ou menos fiéis de signos internos para signos externos.

Os efeitos interpretativos que os signos provocam em um receptor também não precisam ter necessariamente a natureza de um pensamento bem-formulado e comunicável, mas podem ser uma simples reação física ou podem ainda ser um mero sentimento ou compósito vago de sentimentos.

Qualquer coisa pode ser analisada semioticamente.

Através dessas classes, as características peculiares e as eficiências e ineficiências particulares de cada diferente tipo de signo são investigadas. "Cada tipo de signo serve para trazer à mente objetos de espécies diferentes daqueles revelados por um outro tipo de signo". As classes de signos revelam de que espécie um signo deve ser para ser capaz de representar a espécie de objeto que ele representa.


        3.       O que dá fundamento ao signo?

Existem três propriedades formais que dão ao signo capacidade para funcionar como tal: sua mera qualidade, sua existência (quer dizer, o simples fato de existir), e seu caráter de lei.

Pela qualidade, tudo pode ser signo, pela existência, tudo é signo, e pela lei, tudo deve ser signo.

Assim:
          a)       Quando funciona como signo, uma qualidade é chamada de quali-signo, quer dizer, ela é uma qualidade que é um signo.

         b)      A propriedade de existir, que dá ao que existe o poder de funcionar como signo, é chamada de sin-signo, onde "sin" quer dizer singular.

        c)       Quando algo tem a propriedade da lei, recebe na semiótica o nome de legi-signo e o caso singular que se conforma à generalidade da lei é chamado de réplica.

Essas propriedades não são excludentes. Na maior parte das vezes, operam juntas, pois a lei incorpora o singular nas suas réplicas, e todo singular é sempre um compósito de qualidades.


        4.       A que os signos se referem?

Dependendo do fundamento, ou seja, da propriedade do signo que está sendo considerada, será diferente a maneira como ele pode representar seu objeto. Como são três os tipos de propriedades - qualidade, existente ou lei -, são também três os tipos de relação que o signo pode ter com o objeto a que se aplica ou que denota.

Se o fundamento é um quali-signo, na sua relação com o objeto, o signo será um ícone; se for um existente, na sua relação com o objeto, ele será um índice; se for uma lei, será um símbolo.

Há uma distinção que Peirce estabeleceu para o objeto que pode nos ajudar a compreender melhor as relações do fundamento do signo com seu respectivo objeto. Essa distinção é a do objeto dinâmico e do objeto imediato.

Os signos só podem se reportar a algo, porque, de alguma maneira, esse algo que eles denotam está representado dentro do próprio signo. O modo como o signo representa, indica, se assemelha, sugere, evoca aquilo (objeto dinâmico) a que ele se refere é o objeto imediato. Ele se chama imediato porque só temos acesso ao objeto dinâmico através do objeto imediato, pois, na sua função mediadora, é sempre o signo que nos coloca em contato com tudo aquilo que costumamos chamar de realidade.

Dependendo da natureza do fundamento do signo, se é uma qualidade, um existente ou uma lei, também será diferente a natureza do objeto imediato do signo e, consequentemente, também será diferente a relação que o signo mantém com o objeto dinâmico.

Vem daí a classificação dos signos em ícones, índices e símbolos. Assim, o objeto imediato de um ícone só pode sugerir ou evocar seu objeto dinâmico. O objeto imediato de um índice indica seu objeto dinâmico e o objeto imediato de um símbolo representa seu objeto dinâmico.

Daí tem-se a divisão dos objetos imediatos em três tipos: descritivos, designativos e copulantes.

Vale observar as relações:
No caso do quali-signo icônico, seu objeto imediato tem sempre um caráter descritivo, pois estes determinam seus objetos dinâmicos, declarando seus caracteres.
No caso do sin-signo indicial, seu objeto imediato é um designativo, pois dirige a retina mental do intérprete para o objeto dinâmico em questão.
No caso do legi-signo simbólico, seu objeto imediato tem a natureza de um copulante, pois meramente expressa as relações lógicas destes objetos com seu objeto dinâmico.
Assim como há uma divisão triádica do objeto imediato também o dinâmico se subdivide em três, de acordo com a mesma lógica do primeiro, segundo e terceiro.

Quando o objeto imediato é um descritivo, o objeto dinâmico é um possível e o signo em si mesmo, um abstrativo.

Quando o objeto imediato é um designativo, quer dizer, quando dirige a mente do intérprete para seu objeto dinâmico, este só pode ser uma ocorrência, coisa existente ou fato atual do passado ou futuro. Nesse caso, o signo em si é um concretivo, quer dizer, algo concreto, existente.

Quando o objeto imediato é um copulante, apresentando relações lógicas, o objeto dinâmico é um necessitante, algo de caráter geral, um tipo, e o signo em si é um coletivo.

Nesse ponto, acho que seria interessante (e mais simples) representar essas relações em um quadro:



Para entender melhor as relações, destaco algumas características dos signos dentro de suas classificações:

ÍCONE:
- Um ícone é um signo que tem como fundamento um quali-signo.
- Ícones são quali-signos que se reportam a seus objetos por similaridade.
- O ícone só pode sugerir ou evocar algo porque a qualidade que ele exibe se assemelha a uma outra qualidade.
- O objeto imediato de um ícone é o seu próprio fundamento, quer dizer, é a qualidade ou qualidades que ele exibe.
- Peirce dividiu os signos icônicos em três níveis:
§  A imagem estabelece uma relação de semelhança com seu objeto puramente no nível da aparência.
§  O diagrama representa seu objeto por similaridade entre as relações internas que o signo exibe e as relações internas do objeto que o signo visa representar.
§  A metáfora representa seu objeto por similaridade no significado do representante e do representado.


ÍNDICE:
- O que dá fundamento ao índice é sua existência concreta.
- Se, no caso do ícone, não há distinção entre o fundamento e o objeto imediato, já no caso do índice essa distinção é importante. O objeto imediato do índice é a maneira como o índice é capaz de indicar aquele outro existente, seu objeto dinâmico, com o qual ele mantém uma conexão existencial.
- Todos os índices envolvem ícones. Mas não são os ícones que os fazem funcionar como signos.
- A ação do índice é distinta do aspecto icônico. Para agir indicialmente, o signo deve ser considerado no seu aspecto existencial como parte de um outro existente para o qual o índice aponta e de que o índice é uma parte.


SÍMBOLO:
- Seu fundamento é um legi-signo.
- Se o fundamento do símbolo é uma lei, então, o símbolo está plenamente habilitado para representar aquilo que a lei prescreve que ele represente.
- O recorte específico que um símbolo faz de seu contexto de referência é o objeto imediato do símbolo.


DE FORMA RESUMIDA:
O objeto imediato do ícone é o modo como sua qualidade pode sugerir ou evocar outras qualidades. O objeto imediato do índice é o modo particular pelo qual esse signo indica seu objeto. O objeto imediato do símbolo é o modo como o símbolo representa o objeto dinâmico. Enquanto o ícone sugere através de associações por semelhança e o índice indica através de uma conexão de fato, existencial, o símbolo representa através de uma lei.


UM ÚLTIMO CONCEITO:
Para deixar a noção do objeto ainda mais fina, Peirce desenvolveu o conceito de experiência colateral. Este se refere à intimidade prévia com aquilo que o signo denota.



       5.       Como os signos são interpretados?

O interpretante é o terceiro elemento da tríade de que o signo se constitui. O objeto é aquilo que determina o signo e que o signo representa. Já o interpretante é o efeito interpretativo que o signo produz em uma mente real ou meramente potencial.

Peirce partiu de três tipos básicos de interpretante. Assim como o signo tem dois objetos, o imediato e o dinâmico, ele tem também três interpretantes.

Interpretante não quer dizer intérprete. É algo mais amplo, mais geral. O intérprete tem um lugar no processo interpretativo, mas este processo está aquém e vai além do intérprete.

Logo, o primeiro nível do interpretante é chamado de interpretante imediato. É um interpretante interno ao signo. Trata-se do potencial interpretativo do signo, ainda no nível abstrato, antes de o signo encontrar um intérprete qualquer em que esse potencial se efetive.

O segundo nível é o do interpretante dinâmico, que se refere ao efeito que o signo efetivamente produz em um intérprete. Tem-se aí a dimensão psicológica do interpretante, pois se trata do efeito singular que o signo produz em cada intérprete particular.
Esse efeito, de acordo com as três categorias da primeiridade, secundidade e terceiridade, subdivide-se em três níveis: interpretante emocional, energético e lógico.

O primeiro efeito que um signo está apto a provocar em um intérprete é uma simples qualidade de sentimento, isto é, um interpretante emocional. Os interpretantes emocionais estão sempre presentes em quaisquer interpretações.

O segundo efeito significado de um signo é o energético, que corresponde a uma ação física ou mental, quer dizer, o interpretante exige um dispêndio de energia de alguma espécie.

O terceiro efeito significado de um signo é o interpretante lógico, quando o signo é interpretado através de uma regra interpretativa internalizada pelo intérprete.

Em outras palavras, o símbolo está conectado a seu objeto em virtude de uma idéia da mente que usa o símbolo, sem o que uma tal conexão não existiria. Portanto, é no interpretante que se realiza, por meio de uma regra associativa, uma associação de idéias na mente do intérprete, associação esta que estabelece a conexão entre o signo e seu objeto. Daí Peirce ter repetido muitas vezes que o símbolo se constitui como tal apenas através do interpretante. Isso nos leva a compreender por que só o símbolo é genuinamente triádico.

Dentro do interpretante lógico, Peirce introduziu um conceito muito importante, o de interpretante lógico último, que equivale a mudanças de hábito.

O terceiro nível do interpretante é o interpretante final, que se refere ao resultado interpretativo a que todo intérprete estaria destinado a chegar se os interpretantes dinâmicos do signo fossem levados até o seu limite último. Como isso não é jamais possível, o interpretante final é um limite pensável, mas nunca inteiramente atingível.

Na relação do signo com o interpretante final, vamos encontrar novamente três níveis de interpretante: rema, dicente e argumento.

Um signo é um rema para o seu interpretante quando for um signo de possibilidade qualitativa. O rema não vai além de uma conjectura, de uma hipótese interpretativa.

Se temos diante de nós quali-signos icônicos, eles só podem produzir interpretantes remáticos.
Um dicente é um signo de existência real, portanto não pode ser um ícone, uma vez que este não dá base para uma interpretação de que algo se refere a uma existência real.

Dicentes são interpretantes de sinsignos indiciais. Para o seu interpretante, o argumento é um signo de lei. A base do argumento está nas seqüências lógicas de que o legi-signo simbólico depende.

Pode-se, então, dizer que um rema é um signo que é entendido como representando seu objeto apenas em seus caracteres; que um dici-signo é um signo que é entendido como representando seu objeto com respeito à existência real e que um argumento é um signo que é entendido como representando seu objeto em seu caráter de signo.


segunda-feira, 29 de abril de 2013

E essa tal Primeiridade?

Você é capaz de explicar o que é Primeiridade dentro das categorias de Peirce? Não?
Nem a gente, mas tentamos mesmo assim. E ainda tivemos coragem de gravar (foi o jeito). 

Veja o vídeo e entenda (ou não):
Primeiridade?! Oi?! (e a mesma apresentação em outra versão: Primeiridade de outro ângulo)


Vale dizer que essa é parte de uma discussão em grupo realizada na aula de Semiótica no dia 23/04. Breve tentativa de explicação do conceito semiótico de Primeiridade, com base no livro "O que é Semiótica" de Lucia Santaella.
Ps. Repare no mapa mental.

O que a imagem representa para você? Que reação ela causou?
Você está pensando nisso? Então isso não é mais Primeiridade! :)

terça-feira, 23 de abril de 2013

O que é Semiótica? Parte 2

Atividade 04:  Fichamento "O que é Semiótica?" de Lúcia Santaella
Páginas 9 a 18

Como vimos nas cenas de nossos últimos capítulos...

"O mundo aparece e se traduz como linguagem" e este é o fundamento de toda a Semiótica.


Enquanto isso, falávamos das categorias de Peirce. Então, voltemos.

  • Exemplificar as categorias como manifestações psicológicas significa examinar os modos mais gerais conforme os quais se dá a apreensão dos fenômenos na consciência. 
Mas o que seria a consciência para nosso caro Peirce?
  • Consciência não se confunde com razão. Consciência é como um lago sem fundo no qual as idéias (partículas materiais da consciência) estão localizadas em diferentes profundidades e em permanente mobilidade. A razão (pensamento deliberado) é apenas a camada mais superficial da consciência. Aquela que está próxima da superfície. 
  • A consciência é o lugar onde interagem formas de pensamento.
  • Peirce não desvalorizava a razão. Sua lógica, aliás, se propõe como sendo um método científico para orientar o raciocínio. Sua noção de consciência é ampla, dinâmica, em alguns aspectos próxima dos estudos da estrutura psíquica em Freud e mais próxima ainda da noção de consciência que as atuais pesquisas do cérebro estão nos dando.
  • Peirce passa a defender que, tomando-se consciência como um todo, nada há nela senão estados mutáveis. O que chamamos racionalidade sofre, a todo momento, a influência de interferências fora do nosso controle.
  • Assim, suas categorias são, para ele, os três modos como os fenômenos aparecem à consciência. São modos de operação do pensamento-signo que se processam na mente.
  • Essas três categorias irão para o que poderíamos chamar três modalidades possíveis de apreensão de todo e qualquer fenômeno. Elas se constituem, nas modalidades mais universais e mais gerais, através das quais se opera a apreensão-tradução dos fenômenos. 

Primeiridade

  • A Primeiridade é a pura qualidade de ser e de sentir. A qualidade da consciência imediata é uma impressão (sentimento) in totum, indivisível, não analisável, inocente e frágil. Tudo que está imediatamente presente à consciência de alguém é tudo aquilo que está na sua mente no instante presente. 
  • É presente imediato, de modo a não ser segundo para uma representação. Precede a síntese e a diferenciação, não tendo nenhuma unidade e nem partes. Dessa forma, não pode ser articuladamente pensado e qualquer descrição sua irá necessariamente falseá-lo.
  • Consciência imediata e passiva, livre de autocontrole e de esforços racionalizantes.


"Esse estado-quase, aquilo que é ainda possibilidade de ser, deslancha irremediavelmente para o que já é, e no seu ir sendo, já foi. Entramos no universo do segundo."




Secundidade

  • O simples fato de estarmos vivos, existindo, significa, a todo momento, consciência reagindo em relação ao mundo.
  • A qualidade tem de estar encarnada em uma matéria. A factualidade do existir está nessa materialização. Isto é a Secundidade.
  • Nossas reações à realidade e interações com a materialidade das coisas e dos seres são resposta sígnicas ao mundo. 
  • Agir, reagir, interagir e fazer são modos marcantes, concretos e materiais de dizer o mundo.
  • É o que dá à experiência seu caráter factual, de luta e confronto. Ação e reação sem interferência da intencionalidade, razão ou lei.


Terceiridade
  • Como já vimos, pelos estudos pierceanos, todas as experiências são constituídas por três elementos: primeiridade, secundidade e terceiridade.
  • A Terceiridade aproxima o primeiro e o segundo numa síntese intelectual. É a camada de inteligibilidade, pensamentos em signos, através da qual representamos e interpretamos o mundo.
  • A mais simples ideia de terceiridade é aquela de um signo ou representação. Buscando conhecer e compreender um fenômeno do qual está diante, a consciência produz um signo. A isso chamamos de percepção.  Perceber é traduzir um objeto de percepção em um julgamento de percepção. Interpor uma camada interpretativa entre a consciência e o que é percebido.
  • O homem só conhece o mundo porque, de alguma forma, o representa e só interpreta essa representação em uma outra representação.
  • O significado de um pensamento ou signo é outro pensamento.
  • O signo é um primeiro, o objeto um segundo e o interpretante um terceiro.
  • Nessa medida, para nós tudo é signo, qualquer coisa que se produz na consciência tem o caráter de signo. No entanto, Peirce leva a noção de signo tão longe a ponto de que um signo não tenha necessariamente de ser uma representação mental, mas pode ser uma ação ou experiência, ou mesmo uma mera qualidade de impressão.


Definição de signo
  • Há uma enorme quantidade de definições.
  • A escolhida: "Um signo intenta representar, em parte pelo menos, um objeto que é, portanto, num certo sentido, a causa ou determinante do signo, mesmo se o signo representar seu objeto falsamente. Mas dizer que ele representa seu objeto implica que ele afete uma mente, de tal modo que, de certa maneira, determine naquela mente algo que é mediatamente devido ao objeto. Essa determinação da qual a causa imediata ou determinante é o signo, e da qual a causa mediata é o objeto, pode ser chamada o Interpretante".
  • Ou seja: o signo é uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. Ele só pode funcionar como signo se carregar esse poder de representar, substituir uma outra coisa diferente dele. Ora, o signo não é o objeto. Ele apenas está no lugar do objeto. Portanto, ele só pode representar esse objeto de um certo modo e numa certa capacidade.
  •  Peirce estabeleceu uma rede de classificações sempre triádicas  dos tipos possíveis de signo.

Sobre a Semiótica
  • Ainda em 1909, Pierce escreveu: "A grande necessidade é a de uma teoria geral de todas as possíveis espécies de signo, seus modos de significação, de denotação e de informação; e o todo de seu comportamento e propriedades, desde que estas não sejam acidentais.
  • Enfim, as tríades peirceanas funcionam como uma espécie de grande mapa, rigorosamente lógico, que pode nos prestar enorme auxílio para o reconhecimento do território dos signos, para discriminar as principais diferenças entre signos, para aumentar nossa capacidade de apreensão da natureza de cada tipo de signo.
  • A Semiótica peirceana (Semiótica geral, teoria dos signos em geral) nos trouxe foram as imprescindíveis fundações fenomenológicas e formais para o necessário desenvolvimento de muitas e variadas Semióticas especiais.
  • A Semiótica peirceana é, antes de mais nada, uma teoria sígnica do conhecimento.